O verão chegou e com ele o calor intenso.
Consequentemente esse clima traz as chuvas típicas da estação, que muitas vezes
refrescam o ambiente, ou não. As mudanças bruscas de temperatura tem se tornado
cada vez mais frequentes nos dias atuais. Os motivos são variados, aquecimento
global, efeito estufa e tudo mais. Nomes são muitos e as soluções para evitar
esse tipo de problema também. Não adianta se lamentar sobre o excesso de calor,
ou sobre as chuvas torrenciais, ou somente se solidarizar com tragédias e
apenas reclamar. É preciso fazer algo que dê resultado futuro, pois
infelizmente essa será a realidade do planeta durante muito tempo.
Pensando nisso, já existem pessoas e projetos que se
preocupam com o meio ambiente. Em Niterói, Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, a bioarquiteta Camille Santowsky já pensava em como poderia ajudar o
mundo com sua profissão. “Ainda na faculdade, a arquitetura convencional atual
não fazia sentido pra mim. Não me encantava. Ao ser apresentada às construções
sustentáveis por uma professora, me apaixonei! Como na época o tema não era
aprofundado no meio acadêmico, busquei aprender tudo que sei fora da
universidade. Foi quando cheguei no Tibá para trabalhar e aprender. E cada vez
mais eu tinha certeza de que estava no caminho certo, que me fazia feliz”,
disse Camille.
Autora de 12 projetos e duas consultorias, Camille
investiu no seu sonho. “Comecei a projetar pela “Teto Verde” em 2010 e até
agora foram 12 projetos e 2 consultorias. Isso sem fazer propaganda e
trabalhando sozinha no escritório que montei em minha própria casa. A idéia era
essa mesmo, começar devagarinho. Cada projeto é desenvolvido em função dos
hábitos e gosto das pessoas que vão morar ou utilizar o espaço. Acredito na aliança
estética-funcionalidade. Quando um cliente deseja criar hábitos mais saudáveis
em sua vida, deve ser algo progressivo e nada radical. Pouco a pouco. Essa é a
dica”, afirma a bioarquiteta.
As previsões de um futuro incerto foram umas das
coisas que influenciaram a bioarquiteta a se aprofundar cada dia mais neste
assunto. Ela acredita que falta mesmo é consciência ambiental entre as pessoas.
“O tema central desde o início desse século tem sido o meio ambiente e as
previsões catastróficas de um futuro incerto não só para o meio ambiente, mas
para a raça humana. Tudo isso gerou muito medo nas pessoas e a maioria passou a
agir em função desse medo. Não acredito que o caminho seja por ai. O meio
ambiente sempre existiu e sempre existirá e o homem faz parte dele com suas
qualidades e imperfeições. Acho que o que falta é consciência”, comentou a
bioarquiteta.
Camille ressalta que o futuro deve começar agora e
as pessoas precisam estar atentas para não deixar que o termo sustentabilidade
se torne algo banal e puro marketing. “Vejo que o mercado atentou para um tema
importante (sustentabilidade) e o banalizou. Hoje em dia não sabemos mais
quando um produto tem de fato características sustentáveis ou se é somente
marketing. É importante ficar atento a isso. Não acho que o futuro da
arquitetura nem da raça humana esteja na sustentabilidade não. Se o que
queremos é um futuro de harmonia e paz, esse nosso futuro deve ser plantado
agora, todos os dias e é com amor! E na arquitetura é a mesma coisa. As
construções podem nos proporcionar saúde e é nessa arquitetura que eu
acredito”, pontuou Camille.
Casa
sustentável – Camille é a autora de um projeto
inovador. A residência do casal Melina Goulart e Matheus Barreto, no Engenho do
Mato em Niterói é o exemplo de casa sustentável e amor a natureza. O teto verde
é o destaque. “O telhado verde é uma técnica de se utilizar uma cobertura
vegetal nos telhados das construções. É uma técnica milenar utilizada desde em
climas super frios como na Islândia até lugares com temperaturas elevadíssimas
como o caso da Tanzania, na África. Sua principal função é equilibrar as
temperaturas. Se um lugar é muito frio, as construções com telhado verde serão
mais quentinhas. E se o lugar é muito quente, as construções terão temperaturas
mais fresquinhas. Melhora também a qualidade do ar (lembrando que as plantas
filtram o ar poluído em ar puro pra gente) e evitando enchentes, uma vez que a
água da chuva demora mais a ser liberada para as ruas ou pode ser armazenada
para reuso”, conta Camille.
Ela ainda lista uma série de benefícios para a casa
sustentável. “Redução dos gastos com as companhias de luz e água; melhor
conforto térmico; melhoria na qualidade do ar dentro e fora da construção. Mas
o principal é que o pensamento é no global. Quando se constrói sustentavelmente
não só o bem-estar dos moradores são levados em conta, mas o bem-estar dos
vizinhos e de todos que moram ali naquela cidade e que têm as mesmas
necessidades básicas que eu e você! E dessa maneira, agindo localmente mas
pensando no global, todos saem ganhando”, contou a bioarquiteta.
A Melina Goulart pensa da mesma forma. A engenheira
florestal trabalha ministrando cursos de Permacultura e Agroecologia em uma
organização não governamental chamada Tibá. Ela ressalta que o grande benefício
de ter uma casa sustentável é a auto-suficiência. “O que mais gosto na casa é
auto-suficiência que cada vez ela tem mais, devido a reciclagem do lixo,
geramos recursos: terra adubada e alimento para os animais por exemplo. A
eficiência energética devido ao teto verde que diminui a temperatura da casa e
ao bom posicionamento das porta e janelas que a deixam bem iluminada e fresca.
A produção de alimentos agroecologicos que colocam alimentos de alta qualidade na minha mesa”, disse Melina
A engenheira acredita na tendência mundial de
preservação, mas vê com receio esse comportamento. “Acredito na integração do
homem a natureza, se vendo como parte do ecossistema, sem divisões. Então sinto
que infelizmente esta visão de preservação tem aumentado e isso esta fazendo
com que a natureza vire mais uma mercadoria. É importante salientar que
preservação é diferente de conservação e muitas pessoas estão confundindo, isso
atrapalha muito, tem muitos ambientalistas que dizem que estão sendo
conservacionista, mas no fundo estão sendo preservacionista. Sou otimista e
acredito que a cada dia novas pessoas irão despertar para esta realidade, de
sermos parte desta natureza maravilhosa, que podemos interagir com ela de forma
saudável e eficiente. Que a mudança acontece dentro de cada um”, finalizou
Melina.